A. MONTEIRO DE CASTRO
( BRASIL – MINAS GERAIS )
Membro da Academia Ouropretana de Letras.
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MONTEIRO DE CASTRO, A. Respingos Dalma. Ouro Preto, MG: 1957. 182 p. No. 10 023
Exemplar da biblioteca de Antonio Miranda, doação do amigo (livreiro) Brito – Brasília – DF.
VOZES DO BRASIL
Quem, entre nós, falai, ó brasileiros,
Que, sendo o baço desta terra aurífera,
Não tem no corpo o sangue do guerreiro
Que, fero, imobiliza, por inteiro,
Do imigo pátrio a cólera mortífera?
Quem, entre vós, do ventre são gestado,
Quer lá do litoral ou do sertão,
Não sente meu Brasil tão bem amado,
Se as ondas beijam meu Brasil de um lado,
E, de outro, a seiva da vegetação?
Quem, entre vós, que a tudo indiferente,
À guerra, ao gume, à pólvora, ao fuzil,
À cólera, meu Deus, ou à serpente,
Oh, não se sentirá bem diferente,
Volvendo vozes deste meu Brasil?
Deste Brasil que tudo sinteliza
Um mundo cheio de felicidade,
Onde o bemol de “O Guarani” desliza
No coração da gente e fertiliza
Um hino de esperança e de saudade!
E se vislumbra o canto de poesia,
Amores de Marília e de Moema,
Espuma de cachoeira, a pradaria,
O luar do meu sertão, a melodia
Do sabiá da terra de Iracema!
Enquanto o mundo atento se curvara
Dos arroios do sul à Amazônia,
Sequioso o lusitano ambicionava
No subsolo a gema, e desbravava...
Não o cultivo do Brasil-Colônia!
A flora humana colonial, entanto,
Que, com a silvestre, já se confundia,
Colhia as flóreas roxos agapantos
A quem, no Morro da Queimada, em prantos,
Em holocausto a meu Brasil morria!
Lá, em meio do aroma das orquídeas,
No letargo, porém, de lá do monte,
Calada testemunha das insídias
Dos seis pés de veludo ou de perfídias,
Em rochedo olhava do horizonte.
Contudo cresce em Vila Rica a gente,
E, por soberba inspiração divina,
A ala de Dirceu, já florescente,
Sob o moral pastor de Tiradentes,
Levanta a nau da Inconfidência opina.
Vieram sonhos de reino sem realeza,
De uma embora tardia liberdade...
E um crepúsculo de aurora mal acesa
Cai sobre a gente impávida, indefesa,
Como tributo de felicidade!
O sol nas verdes folhas se esmaece
E a lua fria lá no céu se esconde...
Mas, dentro, o coração mais bate e cresce;
Quanto mais dura algema, mais se aquece
E ao cativo borralho Deus responde!
Razão, e o Criador de assim fazê-la,
De haver um coração teve Marília,
Pois, no Brasil, mulher, de conhecê-la,
Oh, nunca mais alguém pôde esquecê-la,
No lúgubre desterro e na vigília.
Ó metro, ó rima, ó dons esculturais,
Ó ritmo de acentos tão sutil,
Quem pôde tê-los, sem viver bem mais,
Quem pôde amá-los, sem sentir, demais,
Um áureo e verde verso e cor de anil?
No florilégio da literatura
Que sonetos, poema, ou que cantiga,
Só de sorrisos cheios de desventura,
Ou de doridos ais de desventura,
A musa brasileira não respiga?
Que lirismo dos Monges de Maria,
Na alvorada costeira deste chão,
Não desfolhara estrofes, noite e dia,
Jesuítico hinário de poesia,
Na madrugada do Brasil cristão?
(...) (...) (...) (...) (...)
[O poema (imenso!) segue nas próximas páginas do livro...]
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Página publicada em outubro de 2024
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